domingo, 1 de dezembro de 2013

Somos Instantes














Somos instantes apagados
Silenciosamente iluminados,
Instantes fugazes de luz
Magia carnal que seduz...
Somos instantes de um todo
Um todo de instantes sem fim;
Peças de puzzles de ti,
Estilhaços perdidos de mim...
Somos instantes cruzados
Juntos num caminho risonho;
Num mar de calmos tornados
Num céu e universo de sonho.
Somos instantes
De todas as coisas,
De coisa nenhuma.
De ventos que mudam,
De um sol que se apruma.
De estrelas que embalam,
Uma lua;
Que ora se mostra..
Que ora se esfuma...
Somos Instantes gravados
Eternos num só olhar,
Perdidos mas encontrados...
Respirando embriagados,
Um novo vício de amar.



domingo, 13 de outubro de 2013

Um novo Imprevisto...uma nova história.


Sabem aquela pessoa que por vezes olhamos de soslaio, pensamos que seria interessante conhecer, mas mantemos distância?! Pois...o Imprevisto é uma dessas pessoas.

O Imprevisto é o meu novo amigo.


Ligeiro ar de arrogante e prepotente, mas no fundo não passa de um bonacheirão de coração mole (daí atrair tanto os mais sensatos, como os mais descoordenados).


Como sou uma Realidade inconstante, decidi dar-lhe uma oportunidade e convidei-o para um serão agradável no meu ponto alto predilecto.
Pisamos caminhos  - pra mim já tão familiares - gastos pelos passos do tempo, pelas carícias da saudade, pelas marcas forjadas de memórias intemporais.
Apesar do Imprevisto ter reclamado previamente de possíveis vertigens, não foi preciso insistir muito, ganhou confiança e seguiu-me. -Aaah bom, afinal essas tuas vertigens não eram assim tantas! - brinquei eu.
-Estou muito bem, aqui não tenho qualquer problema. - disse algo como isto.
 O seu receio baseava-se mais no facto de não existirem barreiras de protecção, o que neste caso não se aplicava, os muros eram quase mais altos que eu mesma, que a própria Realidade em pessoa!
-Bolas, agora mesmo que quisesse que ele se segurasse a mim, não resultaria.. -pensei eu perversamente.
-Mas que estou eu prá aqui a pensar? Mal conheço este Imprevisto, vamos lá acalmar!! - ralhei com o diabólico subconsciente. O danado anda a pisar o risco.
Mudámos de ares e foi a vez de ser surpreendida; nada mais normal vindo de um Imprevisto irreverente e relaxado como este. Lá partimos, lado a lado, falando tanto de mim (uma Realidade preocupada com mil coisas e carismática) ora saltando para ele (um Imprevisto sempre atento e preparado para improvisar soluções). Mas que dupla interessante...
Os risos eram contagiantes como os pingos de chuva que sentia a aproximarem-se.
-Chegámos! -exclamou ele animado.
Via um pequeno jardim, com passeios em labirinto.
-Hum, mas o que é isto?
-Este é o Jardim dos Sentimentos. Cada zona tem uma tabela a indicar o sentimento. - mencionou sorridente.
Impossível, pensei eu..um Jardim dos sentimentos? Como poderia ser? Iria eu ser apanhada em tal teia abstrata, eu..uma Realidade tão terra -a- terra, e realista..não, não.. não poderia admitir tal coisa!
Ganhei coragem e fui espreitar o espaço de outra dimensão, um poço abismal de sentimentos contraditórios, agridoces, tentadores e desconsertantes. Já não bastava a minha confusão natural, ainda mais esta para me destabilizar..raios, este Imprevisto é perspicaz e astuto, mas não vou ceder. - pensei.
Deslizei pela Inveja de um mundo podre, pela Guerra que adoptei como irmã, planei ao de leve sobre o Amor, e nem sequer atingi a Paz.. Muitos sentimentos tinham desaparecido, desmaiados sem vida sobre a relva, desfalecidos pela decepção humana..para trás deixaram uma Esperança orfã  e ferida.
Terminei na Justiça, que me olhou em tom de desagrado. -Deixa lá, também nada espero de ti, nunca te entregaste de corpo e alma. Nada me dizes e assim continuará a ser... - matutei com os meus botões.
Senti-me a estremecer por dentro..
-Hey..o que se passa? Que foi agora?
 Afinal, era eu que sentia vertigens, era eu que precisava de me segurar em palavras, e amparar toda a tempestade de sentimentos que se estilhaçavam no peito.
Fiquei sem fôlego, mas continuei o caminho. Não poderia dar a entender como aquele momento me afetara. Onde já se viu uma Realidade fraquejar assim? Não..não..não podia ser!
Começou a pingar.
Eu sabia que o meu instinto estava certo. E quando julgava que a chuva me daria algum alento, não poderia estar mais enganada. Tivemos que nos recolher, e assim ficámos mais próximos. Nem consegui olhar-lhe nos olhos..que Imprevisto inquietante, que receio em mostrar o brilho dos pensamentos que me assombravam.
Conversámos de tudo, e de nada. E por fim, quando a natureza assim o permitiu, saímos e seguimos caminho.
Não esperava qualquer despedida, sou uma Realidade teimosa e cautelosa...alguma distância seria a medida mais correcta. Ele não pensou assim. Usou a minha mão como ancora e puxou-me ligeiramente para si. Beijou-me rapidamente a bochecha fria, e queria um como resposta o descarado!! Depois de tanto me inquietar, ainda me fez essa..que personagem de contrastes; ora previsível, ora indecifrável.  
Fiquei sem reacção, mas depressa retribui o acto. Ainda meia atordoada, separá-mo-nos e seguimos caminhos opostos. E mergulhada no calor do silêncio, fui para casa a pensar, com um leve sorriso pendurado:

-Poderá uma Realidade perturbada encaixar-se num mundo de Imprevisto, ou este faz já, indiscutivelmente parte dela?